30 de nov. de 2009
9 de nov. de 2009
Dupla de dois, simples como feijão e arroz
Por Xico Sá*
Noves fora a nostalgia precoce, essa doença que nos pega com frequência, feito vírus de gripe, uma coisa é certa: a reportagem no Brasil está sentindo falta da parelha, do casal de pombos da notícia, a velha dupla repórter/fotógrafo, os xifópagos que fazem miséria quando estão na liga.Não estou aqui falando tão-somente de duplas de grife, tipo David Nasser & Jean Manzon da Cruzeiro dos velhos tempos. Trato da necessidade de fotógrafo e repórter andarem juntos, unha e carne, tocando de ouvido, entrosados, tabelinha de idéias, cerveja no boteco e... pimba!, grandes histórias nas páginas.Simples e fácil como empurrar bêbado em ladeira, pena que os jornalões tenham esquecido de prática tão necessária. Agora normalmente é assim: cada um faz a sua parte de maneira isolada. O jornalão manda o repórter, quando manda em viagem, e depois se vira para ilustrar a matéria como pode. Compra de frila, de agência, se vira.Nada contra frilas e agências, mas é incomparável, em reportagens, o rendimento de uma dupla com o resultado desse casório maluco que junta um texto vomitado aqui com uma foto baixada ali conforme foi possível comprá-la. Em alguns casos, você vê a mesma foto, mesmo num acontecimento banal, em todos os jornais. É o fim do princípio básico do jornalismo: o furo, o rombo, o extraordinário.O fim do velho grito "Extra! Extra! Extra", sempre hiperbolicamente rodrigueano e exclamativo no último!!!Aliás, o que mais perturba hoje um editor é a tal da exclusividade. Você repórter vai lá e diz aquele sonoro "SÓ NÓS TEMOS!" O chefe olha, reflete, e diz, burramente: "Então damos depois". O que se busca é o empate. O importante é não tomar furos, jamais dá-los. Se nós temos, o furo vai para as gavetas. Fica à espera para ser desovado num feriadão, um fim de ano, um Corpus Christi, o diabo a quatro...A dupla, nesse caso, é um problema.Um repórter e um fotógrafo trocando figuras, mergulhando no tema, unindo os repertórios de outras histórias é um perigo. Podem fazer misérias!
*Xico Sá, um dos últimos jornalistas românticos, acredita no óbvio: histórias boas gastam muita sola de sapato e são contadas pelas duplas de repórter-fotógrafo.
Texto originalmente publicado na revista Fotosite Fotografia, número 6, jun/jul/2005.
Noves fora a nostalgia precoce, essa doença que nos pega com frequência, feito vírus de gripe, uma coisa é certa: a reportagem no Brasil está sentindo falta da parelha, do casal de pombos da notícia, a velha dupla repórter/fotógrafo, os xifópagos que fazem miséria quando estão na liga.Não estou aqui falando tão-somente de duplas de grife, tipo David Nasser & Jean Manzon da Cruzeiro dos velhos tempos. Trato da necessidade de fotógrafo e repórter andarem juntos, unha e carne, tocando de ouvido, entrosados, tabelinha de idéias, cerveja no boteco e... pimba!, grandes histórias nas páginas.Simples e fácil como empurrar bêbado em ladeira, pena que os jornalões tenham esquecido de prática tão necessária. Agora normalmente é assim: cada um faz a sua parte de maneira isolada. O jornalão manda o repórter, quando manda em viagem, e depois se vira para ilustrar a matéria como pode. Compra de frila, de agência, se vira.Nada contra frilas e agências, mas é incomparável, em reportagens, o rendimento de uma dupla com o resultado desse casório maluco que junta um texto vomitado aqui com uma foto baixada ali conforme foi possível comprá-la. Em alguns casos, você vê a mesma foto, mesmo num acontecimento banal, em todos os jornais. É o fim do princípio básico do jornalismo: o furo, o rombo, o extraordinário.O fim do velho grito "Extra! Extra! Extra", sempre hiperbolicamente rodrigueano e exclamativo no último!!!Aliás, o que mais perturba hoje um editor é a tal da exclusividade. Você repórter vai lá e diz aquele sonoro "SÓ NÓS TEMOS!" O chefe olha, reflete, e diz, burramente: "Então damos depois". O que se busca é o empate. O importante é não tomar furos, jamais dá-los. Se nós temos, o furo vai para as gavetas. Fica à espera para ser desovado num feriadão, um fim de ano, um Corpus Christi, o diabo a quatro...A dupla, nesse caso, é um problema.Um repórter e um fotógrafo trocando figuras, mergulhando no tema, unindo os repertórios de outras histórias é um perigo. Podem fazer misérias!
*Xico Sá, um dos últimos jornalistas românticos, acredita no óbvio: histórias boas gastam muita sola de sapato e são contadas pelas duplas de repórter-fotógrafo.
Texto originalmente publicado na revista Fotosite Fotografia, número 6, jun/jul/2005.
1 de nov. de 2009
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