Por Xico Sá*
Noves fora a nostalgia precoce, essa doença que nos pega com frequência, feito vírus de gripe, uma coisa é certa: a reportagem no Brasil está sentindo falta da parelha, do casal de pombos da notícia, a velha dupla repórter/fotógrafo, os xifópagos que fazem miséria quando estão na liga.Não estou aqui falando tão-somente de duplas de grife, tipo David Nasser & Jean Manzon da Cruzeiro dos velhos tempos. Trato da necessidade de fotógrafo e repórter andarem juntos, unha e carne, tocando de ouvido, entrosados, tabelinha de idéias, cerveja no boteco e... pimba!, grandes histórias nas páginas.Simples e fácil como empurrar bêbado em ladeira, pena que os jornalões tenham esquecido de prática tão necessária. Agora normalmente é assim: cada um faz a sua parte de maneira isolada. O jornalão manda o repórter, quando manda em viagem, e depois se vira para ilustrar a matéria como pode. Compra de frila, de agência, se vira.Nada contra frilas e agências, mas é incomparável, em reportagens, o rendimento de uma dupla com o resultado desse casório maluco que junta um texto vomitado aqui com uma foto baixada ali conforme foi possível comprá-la. Em alguns casos, você vê a mesma foto, mesmo num acontecimento banal, em todos os jornais. É o fim do princípio básico do jornalismo: o furo, o rombo, o extraordinário.O fim do velho grito "Extra! Extra! Extra", sempre hiperbolicamente rodrigueano e exclamativo no último!!!Aliás, o que mais perturba hoje um editor é a tal da exclusividade. Você repórter vai lá e diz aquele sonoro "SÓ NÓS TEMOS!" O chefe olha, reflete, e diz, burramente: "Então damos depois". O que se busca é o empate. O importante é não tomar furos, jamais dá-los. Se nós temos, o furo vai para as gavetas. Fica à espera para ser desovado num feriadão, um fim de ano, um Corpus Christi, o diabo a quatro...A dupla, nesse caso, é um problema.Um repórter e um fotógrafo trocando figuras, mergulhando no tema, unindo os repertórios de outras histórias é um perigo. Podem fazer misérias!
*Xico Sá, um dos últimos jornalistas românticos, acredita no óbvio: histórias boas gastam muita sola de sapato e são contadas pelas duplas de repórter-fotógrafo.
Texto originalmente publicado na revista Fotosite Fotografia, número 6, jun/jul/2005.
3 comentários:
É verdade Mau... é uma pena!
Muitooooooo bom! Aliás, só podia vir mesmo do meu parceirassssso nestes três anos de Hora. Vou ficar com saudades das nossas tardes. Grande Beijo. Adoro vc. Cris Vieira
Concordo plenamente!
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